Glauber Ataide
Publicado em 30 de ago de 2018
Quem criou o homem e a natureza? Comentários sobre um breve trecho da obra de Marx no qual ele examina esta pergunta.
Este é o trecho que estamos comentando neste vídeo:
(5) Um ser não se encara a si mesmo como independente a menos que seja seu próprio senhor, e ele só é seu próprio senhor quando deve sua existência a si mesmo. Um homem que vive pelo favor de outro, considera-se um ser dependente. Mas, eu vivo completamente por favor de outra pessoa quando lhe devo não apenas a continuação de minha vida, como igualmente sua criação; quando ele é a origem dela. Minha vida tem forçosamente uma causa assim extrínseca quando não é de minha própria criação. A idéia de criação, pois, é difícil de eliminar da consciência popular. Essa consciência e incapaz de conceber a natureza e o homem existindo por sua própria conta, pois tal existência contraria todos os fatos tangíveis da vida prática.
A idéia da criação da Terra recebeu sério golpe da ciência da geogenia, i. é, da ciência que descreve a formação e o desenvolvimento da Terra como um processo de geração espontânea. Generatio aequivoca (geração espontânea) é a única refutação prática da teoria da criação.
É fácil, todavia, deveras, dizer a um indivíduo em particular do que Aristóteles disse: você foi gerado por seu pai e sua mãe, e conseqüentemente foi o coito de dois seres humanos, um ato da espécie humana, que produziu o ser humano. Vê-se, pois, que mesmo em um sentido físico o homem deve sua existência ao homem. Por conseguinte, não basta ter em mente apenas um dos dois aspectos, a progressão infinita e perguntar a seguir: quem gerou meu pai e meu avô? Também se tem de ter em vista o movimento circular, perceptível nessa progressão, segundo o qual o homem, no ato da geração, reproduz-se a si mesmo: destarte, o homem sempre permanece como sujeito. Mas, responder-se-á: admito esse movimento circular, mas em troca você deve aceitar a progressão, que leva ainda mais adiante ao ponto onde eu pergunto: quem criou o primeiro homem e a natureza como um todo? Só posso responder: sua pergunta é, em si mesma, um produto da abstração. Pergunte a si mesmo como chegou a essa pergunta. Pergunte-se se sua pergunta não nasce de um ponto de vista a que eu não posso responder por que ele é deturpado. Pergunte-se se essa progressão existe como tal para o pensamento racional. Se você indaga acerca da criação da natureza e do homem, você está abstraindo estes. Você os supõe não-existentes e quer que eu demonstre que eles existem. Replico: desista de sua abstração e ao mesmo tempo você abandonará sua pergunta. Ou então, se você quer manter sua abstração, seja coerente, e se pensa no homem e na natureza como não-existentes (XI) pense também em você como não-existente, pois você também é homem e natureza. Não pense nem formule quaisquer perguntas, pois logo que você o faz sua abstração da existência da natureza e do homem se torna sem sentido. Ou será você tão egoísta que concebe tudo como não-existente, mas quer que você exista?
Você pode retrucar: não quero conceber a inexistência da natureza, etc.; só lhe pergunto acerca do ato de criação dela, tal como indago do anatomista sobre a formação dos ossos, etc.
Como, no entanto, para o socialista, o conjunto do que se chama história mundial nada mais é que a criação do homem pelo trabalho humano, e a emergência da natureza para o homem, ele, portanto, tem a prova evidente e irrefutável de sua autocriação, de suas próprias origens. Uma vez que a essência do homem e da natureza, o homem como um ser natural e a natureza como uma realidade humana, se tenha tornado evidente na vida prática, na experiência sensorial, a busca de um ser estranho, um ser acima do homem e da natureza (busca essa que é uma confissão da irrealidade do homem e da natureza) torna-se praticamente impossível. O ateísmo, como negação desse irrealismo, não mais faz sentido, pois ele é uma negação de Deus e procura afirmar, por essa negação, a existência do homem. O socialismo dispensa esse método assim tão circundante; ele parte da percepção teórica e prática sensorial do homem e da natureza como seres essenciais. É autoconsciência positiva humana, não mais uma autoconsciência alcançada graças à negação da religião; exatamente como a vida real do homem é positiva e não mais alcançada graças à negação da propriedade privada, por meio do comunismo. O comunismo é a fase de negação da negação e é, por conseguinte, para a próxima etapa da evolução histórica, um fator real e necessário na emancipação e reabilitação do homem. O comunismo é a forma necessária e o princípio dinâmico do futuro imediato, mas o comunismo não é em si mesmo a meta da evolução humana - a forma da sociedade humana.
fonte - https://www.marxists.org/
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